LAVA JATO QUEBRA EMPRESAS E ENFRAQUECE ENGENHARIA




O cenário criado após a deflagração da Operação Lava Jato é de devastação econômica nas principais empresas que atuam nas grandes obras do País, apontando para outro efeito devastador na desnacionalização da infraestrutura nacional; principais empreiteiras colocam a venda concessões de aeroportos, rodovias, portos, saneamento e estaleiros; principais interessados são grupos estrangeiros; obras estão paralisadas sem previsão de serem retomadas, como a duplicação da BR-153 entre Goiás e Tocantins, ou as obras do Comperj, no Rio; gigantes da construção pesada, do setor de petróleo e gás se deparam com portas fechadas para o acesso ao crédito; sem ter como financiar as obras e sendo executadas por credores, as empresas estão recorrendo à recuperação judicial; só em março, foram feitas 75 solicitações, a exemplo da Alumini, Galvão, OAS e Schahin; juntas; as quatro empresas acumulam dívidas que chegam a R$ 17,9 bilhões; todas já fizeram demissões, que podem chegar a 170 mil

Os desdobramentos da Operação Lava Jato, comandada pelo juiz Sergio Moro para oficialmente combater um esquema de corrupção na Petrobras, criaram um cenário de caos e desolação na área da infraestrutura no País. Demissões, quebradeira nas maiores construtoras nacionais, dezenas de obras estruturantes paralisadas e um grande feirão de concessões de aeroportos, portos, rodovias, empresas de saneamento e de estaleiros que na prática representam uma brutal desnacionalização da infraestrutura no País.

As empresas têm enfrentado dificuldades financeiras desde o fim do ano passado, período em que a Petrobras suspendeu contratos que tinha com as empresas acusadas de formar um cartel para fraudar contratos e desviardinheiro público.

Agora, revela reportagem da Folhadeste domingo (19), as grandes empreiteiras brasileiras envolvidas na Operação Lava Jato estão vendendo seus negócios estruturantes para saldar suas dívidas milionárias. A publicação sustenta ainda que grupos estrangeiros estariam interessados em algumasoportunidades.

A Folha cita os aeroportos de Guarulhos, Brasília e Natal, privatizados no governo Dilma, entre as concessões à venda. A construtora Engevix teria colocado à venda sua participação na Inframérica, consórcio que opera os aeroportos de Brasília e Natal, por R$ 400 milhões.

A OAS teria colocado à venda os 24,4% que possui na Invepar, concessionária do aeroporto de Guarulhos, do metrô do Rio e rodovias. A canadense Brookfield teria interesse. A multinacional vão conceder FINANCIAMENTO emergencial de R$ 800 milhões para OAS e receberão em garantia uma fatia dos 24,4% que a empreiteira tem na Invepar.

No saneamento, podem trocar de mãos as empresas responsáveis por serviços em 20 cidades. A Galvão Engenharia teria colocado à venda companhias em 18 cidades. O GP INVESTIMENTOS, alega o jornal paulista, chegou a fazer proposta de R$ 800 milhões, mas o negócio ainda não foi fechado. A OAS também estaria negociando empresas de saneamento em Araçatuba e em Guarulhos.

Os estaleiros Enseada, da OAS, e Rio Grande, da Engevix, também entrariam no feirão da Lava Jato. As empresas enfrentam dificuldade para seguir operando por causa dos atrasos de pagamentos da Sete Brasil, empresa contratada pela Petrobras para construir suas sondas, mas que corre o risco de quebrar devido ao atraso de um FINANCIAMENTO prometido pelo BNDES.

Grupos estrangeiros, principalmente fundos que compram participação em empresas, estão se movimentando para analisar as possibilidades de negócio. A Advent, uma das maiores gestoras do mundo, também chegou a fazer propostas por alguns negócios, embora o jornal não especifique quais. A avaliação geral é que existem boas oportunidades e que podem surgir outras, a depender dos desdobramentos da Operação Lava Jato nas demais construtoras do país.

"O risco é alto, mas quando teremos outro petrolão?", disse o gestor de um fundo.



Crise

Segundo dados da Serasa Experian, somente em março deste ano, foram feitas 75 solicitações de recuperação judicial de empresas (leia aqui). O processo foi criado no Brasil em 2005 em substituição à concordata, com o objetivo de daruma segunda chance a empresas que estão em dificuldades financeiras. Quando a recuperação é aceita pela Justiça, as execuções contra a organização são suspensas e ela ganha fôlego para elaborar um plano para se capitalizar e pagar suas dívidas. Os credores podem decidir se aprovam ou não a proposta.

Sem dinheiro nem crédito para se capitalizar, a primeira grande empresa afetada pela Java Jato a solicitar recuperação judicial foi a Alumini Engenharia, em janeiro. A empresa atua nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e do Comperj, no Rio de Janeiro, e alega dificuldades para receber R$ 1,2 bilhão por serviços prestados à Petrobras. A empresa acumula uma dívida de R$ 923 milhões.

No total, a empresa emprega cerca de 6 mil trabalhadores. No Comperj, as obras ficaram paradas desde o dia 7 de janeiro. Em Pernambuco, os problemas começaram ainda em 2014 e cerca de 4.800 trabalhadores foram à Justiça para reivindicar salários atrasados, rescisões e outras verbas. 

Além da Alumini, a Jaraguá Equipamentos Industriais, de Sorocaba (SP), também entrou com pedido de recuperação judicial, que foi aceito pela Justiça em julho do ano passado. A empresa já apresentava problemas financeiros nos primeiros meses da Lava-Jato e acumulava dívidas de R$ 500 milhões. 

Galvão não tem como tocar duplicação da BR-153

O Grupo Galvão teve seu pedido de recuperação judicial aprovado pela Justiça do Rio no fim de março. Grupo empresarial comandado por Dario Galvão, preso pela Policia Federal na Lava Jato, alega não ter capital para tocar as obras de duplicação da rodovia BR-153, entre Anápolis (GO) e Aliança do Tocantins (TO). 

O contrato de concessão da rodovia foi assinado em setembro do ano passado. Empreiteira chegou a colocar R$ 200 milhões em obras menores na rodovia. Pelo contrato, as obras de duplicação devem começar neste mês de abril, mas a empresa não tem fôlego financeiro.

A empreiteira tem uma dívida de R$ 2,5 bilhões. Dos R$ 7,7 bilhões que tem em contratos a receber, R$ 2,1 bilhões são com a Petrobras: R$ 1,2 bilhão de obras concluídas e não pagas e outros R$ 900 milhões a vencer. A empreiteira solicitou um empréstimo de R$ 800 milhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os recursos seriam usados para começar a duplicação da rodovia.

Como não conseguiu garantias de bancos e sem dinheiro para tocar a obra, demitiu cerca de 400 trabalhadores e deixou de contratar outros 400 que já deveriam estar em treinamento para a empresa assumir formalmente a operação da rodovia no início de maio.

Com presidente preso, OAS acumula dívida de R$ 8 bilhões

Grupo OAS colocou nove de suas empresas em recuperação judicial no início deste mês. A empreiteira baiana acumula uma dívida de R$ 8 bilhões. A intenção é voltar a se concentrar nas atividades de construção pesada.

Serão colocadas à venda a participação da OAS na Invepar (24,44% do negócio), a fatia no Estaleiro Enseada (17,5%), a OAS Empreendimentos (80%), a OAS Soluções Ambientais (100%), a OAS Óleo e Gás (61%) e a OAS Defesa (100%).

Também serão negociados dois estádios: a Arena Fonte Nova (50%), de Salvador, e a Arena das Dunas (100%), em Natal. Todos ficaram de fora do pedido de recuperação.

Segundo a OAS, cujo presidente José Aldelmário Filho, está preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde novembro do ano passado, ao mesmo tempo, clientes decidiram suspender pagamentos e novas contratações. Como consequência, agências de rating rebaixaram a nota da OAS, o que levou ao vencimento antecipado de suas dívidas

"Desde o início das investigações na Petrobras, as instituições financeiras têm sistematicamente restringido o acesso das empresas aos recursos necessários para a manutenção das obras", declarou o presidente da OAS INVESTIMENTOS, Fabio Yonamine.

Grupo Schahin quebrou em R$ 6,5 bilhões

A mais recente empresa a pedir recuperação judicial foi o Grupo Schahin, que atua nas áreas de petróleo e gás, engenharia, energia, imóveis, telecomunicações. 

A companhia anunciou nesta sexta-feira que pediu recuperação judicial para 28 empresas do grupo e deixará de operar em engenharia e construção para se focar na área de petróleo e gás.

A recuperação judicial envolve uma dívida de R$ 6,5 bilhões. Em nota ao mercado, a empresa disse que "lamenta" as demissões envolvidas na reestruturação, mas não informou quantas são. "A situação vivida decorre principalmente do fechamento dos mercados de crédito nacional e internacional, o que impossibilita o FINANCIAMENTO das atividades das empresas", informou a companhia em nota.