GOVERNO JABES DESCE A LADEIRA

Matéria blog do Gusmão.



Jabes Ribeiro e o quintal soterrado de uma casa no Alto do Amparo. Imagens: Thiago Dias/Blog do Gusmão.
Por José Henrique Abobreira

Poderia ser uma metáfora, mas, infelizmente, não é. O governo Jabes Ribeiro desce a ladeira, porque o povão dos altos e morros de Ilhéus, base eleitoral do prefeito, desceu para ocupar o asfalto. Barricadas em chamas, cartazes da revolta e palavras de ordem evidenciaram o descaso da gestão jabista.
A inação da equipe do governo tende a piorar o clima insurrecional já visível. Ao invés de enviar secretários cujas áreas de atuação dizem respeito aos problemas dos morros, a administração se limita a apresentar um representante que sequer sabe responder com precisão as inquirições de urgência do povo sofrido. Isso aumenta a desilusão com os entraves burocráticos, porque o secretário de “relações institucionais” vira um tipo de bode expiatório, enquanto os secretários de obras e de urbanismo e meio ambiente (que poderiam dar uma resposta clara aos manifestantes) fogem da arena da insurreição popular.
Sem a transversalidade capaz de integrar ações entre as equipes das secretarias, o governo despenca no jogo político. Talvez por isso figuras emblemáticas e competentes decidiram desembarcar da canoa governista: Leidívia Espinheira (saúde), Luiz (o controlador geral especialista em contas públicas), Marco Antonio Porto Carmo e o conceituado jornalista Paixão Barbosa (comunicação). Sem falar na atitude corajosa do presidente licenciado do PC do B em Ilhéus, Rodrigo Cardoso, que se afastou do diretório municipal por não concordar com o estreitamento dos laços entre os camaradas comunistas e o jabismo.
Já não há diálogo com a sociedade civil organizada por parte desse governo e não enxergamos disposição nele para retomá-lo.

O Fórum Compromisso com Ilhéus virou fumaça que se perdeu no ar: volatizou. As obras planejadas se arrastam sem sair do papel, e mesmo assim, sem consulta aos interessados. Ainda ontem fomos surpreendidos por uma carta aberta do padre Joelson Dias protestando contra a quadra de esportes indicada para ser construída na praça de Banco Central – a única do distrito. Como é arquiteto, ele se oferece para colaborar com um novo projeto, desde que a praça seja preservada.
A sociedade observa e comenta a apatia do prefeito. Acredito que isso se reflete no ânimo da equipe: vide o péssimo acabamento dos projetos inaugurados pelo gestor. Quem já passou pela reformada Biblioteca Municipal Adonias Filho percebeu que o acabamento do prédio não está bom. Até os retratos históricos de Ilhéus apresentam erros primários nas legendas informativas.
E o programa Ilhéus em ação? Meu Deus! Serviços elementares da manutenção de ruas são alardeados como grandes feitos da prefeitura.Verifiquei in loco a intervenção realizada na Rua Castro Alves (bairro Pontal) e só vi manchas de recuperação de pequenos desníveis do calçamento. Enquanto isso, a buraqueira domina as principais vias da cidade. Cada “cratera” desafia o governo que investiu milhões numa usina de asfalto e paga caro para fazê-la funcionar com a agilidade de um elefante.
Reinaugurada há pouco tempo, a praça São João está quase às escuras, até a iluminação da quadra de esportes é precária: as crianças brincam com os pais já receosos pela segurança dos filhos.
Para o desespero do gestor, seu quarto mandato caminha para um final melancólico.
O projeto de retomada das obras da nova ponte, segundo o secretário de infraestrutura do estado, Marcos Cavalcanti, depende do parecer da Queiroz Galvão. A segunda colocada na licitação ainda não decidiu se aceitará continuar o trabalho iniciado e abandonado há quase um ano pela Constran-UTC. As duas empresas estão enroladas na Operação Lava Jato, assim como a maioria das empreiteiras nacionais.
Com o ajuste fiscal do governo Dilma e a retração dos investimentos públicos, a obra da Ferrovia Oeste-Leste (FIOL) está quase em ponto-morto. O Porto Sul não saiu do papel nem o novo Hospital Regional e o esgotamento sanitário da Zona Sul. São projetos que não dependem somente da articulação do prefeito. As circunstâncias não lhe são favoráveis. Para completar a onda “azarenta” de JR, seus amigos caciques do PP baiano, o vice-governador João Leão e o ex-ministro Mário Negromonte, conselheiro do TCM-BA, estão sob a mira da Lava Jato.
Mesmo que alguma obra emblemática seja iniciada timidamente nessa conjuntura de incertezas, Jabes não provará do gosto dessa comemoração. O final do seu mandato se aproxima e a continuidade do seu grupo político no poder é improvável.
O tempo não perdoa.
José Henrique Abobreira é auditor da receita estadual e articulista do Blog do Gusmão. Foi vice-prefeito e vereador de Ilhéus.